Na entrada do bela vista

ICO CHAVES
1 min readSep 20, 2022

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Ilustração: Felipe Montela (@casa.mati)

Era besta. Mago. Aprendiz de poeta. Certificou-se com quantos pés se dançava o brasil. Montou num cavalo velho. Belém o esperava. Seus olhos de reizinho traçaram caminhos sozinho. Valentia sertaneja. Aprendeu feitiço. Quem desconhece a caatinga não sabe de magia. Comprovou pela vida. Em europa não nasceu mandinga. Disso nunca quis falar. Nem do amor. Protegeu mistérios. Cultivou a tremura das palavras para evitar dizeres e mágoas. Trocou doces por um pedido de silêncio. Ninguém sentiu mais saudade que seus olhos. E foi o melhor em toda a cidade nas artes mágicas de ressuscitar monstros de ferro e aço. Corpo lançado por debaixo do bicho. A cidade inteira sabia da fama. Sempre havia alguém na porta com seu nome no vento. Fazia coisas do diabo. O queria assim o pregador. Respondeu com muralhas. Um coração operário devoto. E as suas cartas sobre a mesa.

Ofertório.

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ICO CHAVES

Do Vale do Mucuri. Baianeiro. Publicou a edição tempo de abacate da revista Temporã. Poemas na antologia poética Tertúlia dos Vales.