Gêneses 25: 24–26

ICO CHAVES
2 min readSep 16, 2022

--

Ilustração: Felipe Montela (@casa.mati)

Aquela criança não seria bem-vinda. Não sentia a obrigação nem de lhe dar um nome. Nem mesmo um nome qualquer. “Um nome qualquer” significaria um tipo de desprezo sem correspondência com os seus sentimentos. Decidiu acompanhar a irmã ao culto dominical naquela semana. Ouvia maravilhas sobre a pregação do pastor clemente. Necessitava de algum tipo de orientação. Acertar as ideias. Logo no início do sermão teve a certeza de que estava ali pela vontade de deus. A palavra falava ao seu coração. Deus estava naquele lugar. Falava pela boca do clemente. Contava a história de issac e rebeca. Pariram gêmeos. Os homenzinhos vieram grudados. O cabeludo com a mão no calcanhar do ruivo. O pai possesso contra aquele gesto. O chamou suplantador. O com a mão no calcanhar. O suplantador. Passou a vida tramando pelo amor do irmão. Para ser chamado de outra forma pelo pai. Em nada pareceram gêmeos. E issac havia escolhido somente um portador para as suas bênçãos. Naquelas terras o deus era de guerra e não gostava do amor entre homens. Lembrava clemente. Assim aprendia com as escrituras. Era a vontade de deus. Amaldiçoa essa criança. Escolhe o nome da sua desgraça. Mônica. A solitária. Cecília. A cega. Betânia. A aflita. Valquíria. Amélia. Buscou descobrir um nome do pior possível. Toda menção deveria assumir a forma do seu desprezo. Algo capaz de deixar aos prantos a vida daquilo que estava para nascer. Memorizou os versículos proferidos pelo pastor. Estava ali a permissão de deus. Com as bênçãos finais. Regressaria em paz.

Perpétua.

--

--

ICO CHAVES

Do Vale do Mucuri. Baianeiro. Publicou a edição tempo de abacate da revista Temporã. Poemas na antologia poética Tertúlia dos Vales.